Fala-se que uma forma interessante de se manter concentrado em uma tarefa que exige muita atenção é fazer pequenas pausas ao longo da jornada de trabalho a fim de olhar para um ponto da paisagem circundante no qual haja o predomínio da cor verde, atitude que produziria certo relaxamento na pessoa atarefada. Essa é uma parábola para caracterizar o ritmo de momentos fortes e fracos, tensos e relaxados, que marcam a vida humana celebrada na liturgia cristã. De fato, enquanto nos tempos litúrgicos fortes (Tempo pascal, Quaresma, Advento, Tempo do Natal) se celebra, mediante sinais sensíveis, aspectos especiais do Mistério de Cristo, no Tempo Comum, sinalizado pelo uso de paramentação de cor verde, celebra-se a globalidade do mistério de nossa salvação realizada em Cristo Jesus. A leitura contínua do Evangelho do Ano litúrgico correspondente (Marcos, Mateus ou Lucas) através dos 33 ou 34 domingos comuns e dos dias feriais, a comemoração das memórias dos santos e das festas dedicadas à Bem-aventurada Virgem Maria impregnam o cristão do sentido de sua vida ordinária: consagração e missão, contemplação e ação (cf. Marcos 14-15).
O primeiro e necessário exercício é precisamente aquele de estar com o Senhor, de ser purificado pela audição de sua Palavra que abre ao homem o horizonte derradeiro de sua vida, de ser assimilado ao sacrifício da Nova e eterna Aliança que nos constitui como a família de Deus. Nesse sentido, esse tempo litúrgico nos leva a revalorizar o domingo, dia da Ressurreição de Cristo segundo antiga tradição apostólica, como dia por excelência da participação comunitária no sacrifício eucarístico, dia de cultivo humano das relações essenciais e de repouso.
O segundo exercício é o da missão, do anúncio do mistério crido, contemplado, celebrado e vivido. Cada qual, de acordo com sua vocação específica, é impelido a expandir os sinais do Reino dos céus realizado em Jesus e presente em gérmen no mundo por meio da Igreja, grande sacramento da humanidade reconciliada com Deus. Na verdade, a missão está contida e verte toda a sua densidade espiritual da eucaristia. Naquele pão e naquele vinho, frutos do trabalho humano, o mundo fragmentado que marcha entre alegrias e angústias encontra seu destino último, tornando-se corpo e sangue do Filho de Deus humanado. Nutrindo-se dela, cada um pode redescobrir que, doando sua vida “até a morte, e morte de cruz” (Filipenses 2, 8), se necessário for, não a perde, mas a recebe definitivamente. Só modelados de tal maneira pela doação salvífica de Jesus, viva e atual, podemos preencher de grandeza o tempo que flui, talvez monótono, e servir ao homem naquilo que o constitui fundamentalmente: como ouvinte da Palavra divina encarnada.
Por Gabriel Dias Ferreira de Souza.